Dor

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fim de um dia nublado, o asfalto molhado, a vida parece passar mais lentamente naquela parte da cidade, sexto andar de um prédio residencial. Garota branca de corpo esguio parada de pé na varanda, seios nus, chorte curto, olhos inchados da tarde que passara trancada em seu quarto chorando, reação do fim do namoro. Seus pais não estão em casa, vão passar o fim de semana fora. Cigarro queima pela metade, ela esquecera de como era o gosto, havia parado pois o namorado odiava o gosto de nicotina nos beijos e o cheiro de fumaça nos cabelos. O uísque quente desce rasgando pela garganta da menina.
Os pedreiros na obra em frente filmam e fotografam a menina com as câmeras megapixel de seus celulares modernos comprados de fornecedores de honestidade duvidosa por um preço tanto quanto acessível, eles não sabem usar nem metade dos recursos. Ela trata os fotógrafos inconvenientes com a mesma indiferença que as cinzas do seu cigarro despejadas prédio a baixo.
Brilho no olhar, as suas lágrimas quentes descem pelo rosto frio refletindo as luzes dos postes que começam a se acender clareando a avenida, onde os carros passam devagar, do seu bairro classe média-alta.
Um blues ou talvez um jazz seria a trilha sonora perfeita para aquele momento tão cinza na vida da jovem que se sente tão incompleta como um espetáculo de teatro sem os seus artistas. A morte havia levado o seu amado.

O Preço

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Garoto sai da frente do computador, lembra-se que tem de ir comprar pão. Levanta, pega o dinheiro. Abre o portão, coloca a cabeça para fora devagar, como um gênio com preguiça de sair da lâmpada, olha para os lados, balança as moedas no bolso, coloca o pé direito para fora.
- Me traga um maço de cigarros. - pede a voz do tio.
- Que marca eu trago? - pergunta o sobrinho, recuando o pé direito.
- Qualquer uma que tiver lá. - responde o tio, deseperado para dar umas baforadas.
- Está bem, eu tinha esquecido que é tudo a mesma porcaria. Todos deixam aquela nuvem de fumaça fedorenta no ar e vão acabar acabar te matando de câncer mais cedo ou mais tarde mesmo. - retrucou o moleque. - Ainda custa o mesmo preço?

A Capivarinha

domingo, 28 de setembro de 2008


Virou até notícia no Fantástico. Capivara brasileira é mandada para o Museu de História Natural de Barcelona, para acasalar com um macho que estava viúvo há dois anos. Que lindo não? Pelo menos essa brasileira não foi deportada e nem virou prostituta, quer dizer nem tanto pois foi apenas para satisfazer os desejos sexuais de um ser da mesma espécie, mesma função que as garotas tupiniquins desempenham por lá, mas pelo menos a capivara foi melhor recebida.

Aquele que Observa

sábado, 13 de setembro de 2008

O meio de uma tarde quente de fim de inverno, o movimento no centro da cidade é intenso, o garoto corre para a estação de trem - é melhor se apressar, é melhor se apressar, logo o seu trem irá passar e seu programa favorito você perderá, apenas tome cuidado para não tropeçar.
Viciados em crack andam descalços pelas ruas, pisando no asfalto quente que produz miragens no horizonte cheio de prédios e automóveis, caminham em bando como animais desorientados, talvez procurando uma vítima para roubar ou apenas um lugar para estar.
"Acorde, levante e lute, a Babilônia vai cair!", esbraveja um mendigo sujo enquanto dança em círculos no meio de uma praça por onde as pessoas passam apressadas e nem sequer prestam atenção no seu singular momento de loucura.
É apenas mais uma tarde comum, ele apenas repara demais na coisas que vê pela janela do ônibus quase vazio onde está, e o vento vai batendo no seu rosto e assanhando seu cabelo. Ele queria estar na praia, porém está sentado na da janela do ônibus voltando para casa depois de uma tarde de compras.

Um Cigarro

sábado, 10 de maio de 2008

É uma sexta-feira, início da noite, o dia fora chuvoso, o tempo está frio, uma certa neblina toma conta da rua molhada, gotículas de água despencam dos fios dos postes, ele caminha de volta para casa, pega um cigarro dentro do seu bolso, saca um isqueiro e acende a sua droga lícita. Ele prometera a si parar com o vício antes que seus pais comecem a desconfiar, mas dessa vez ele se perdoa, o cigarro é por uma boa causa, ajuda a pensar melhor e a fugir de alguns demônios. Como uma tocha acesa entre os seus dedos que ilumina as sombras das ruas úmidas e escuras por onde passa bem como os seus pensamentos. A ponta flamejante do seu cigarro exala uma densa fumaça, tão densa quanto seus pequenos problemas. Ele olha para cima e dá uma baforada como um dragão chinês que ele quer tanto tatuar nas costas e dá uma gargalhada, por um minuto se sentiu livre. Ele retorna para si e lembra que não está fumando maconha, é apenas um cigarro com aroma de canela.
Já perto de casa ele joga o cigarro no chão e pisa em cima, não foi bem educado com o que lhe proporcionou alguns momentos de alívio, mas ele tem apenas 16 isso já aconteceu e ainda vai acontecer muito, com pessoas, o que é pior.

Na Praia

segunda-feira, 31 de março de 2008

Fim de tarde, momentos antes do pôr-do-sol, areia nos pés, as ondas calmas no imenso mar azul, amigos, Coca-Cola na lata, pessoas indo e vindo, turistas, calçadão, avenida, carros, movimento. O vento assanha os meus cabelos, risos, conversa fiada e sem preocupação, sensação de liberdade, bermuda, camiseta de cor clara, carrego os meus chinelos na mão. Câmeras digitais, fotos, celular tocando no bolso de trás, tapioca no restaurante e bons momentos que são eternos enquanto duram.

Manhã de Domingo

quinta-feira, 20 de março de 2008

Me levanto da cama
e piso no chão gelado
coço o saco.
Vou ao jardim
com cara de chapado e cabelo bagunçado.
Olho para o céu azul
e me pergunto se o amanhã será nublado
como o sábado já passado.
Mas é claro que eu não obtive resposta
pois só um drogado
espera respostas de um céu ensolarado.

Madrugadeando

domingo, 9 de março de 2008

E o fim de semana começa, são as primeiras horas de um sábado. O sono, a televisão ligada na sala e eu escutando blues com os fones no ouvido, os olhos estão pesados e uma garrafa de água gelada refresca a minha garganta. O grafite 0.5 mm faz companhia à minha mão direita que freneticamente rabisca palavras sem sentido em um papel amassado.
A minha cama, eu deitado, o teto acima de mim. Enrolo um chumaço do meu cabelo com a ponta dos dedos. A luz acesa parece iluminar o meu espírito. Busco na minha mente algumas lembranças da semana, vasculhando pensamento por pensamento, como um lobo faminto farejando à sua caça. Desisto da procura e chego a conclusão de que não sei se tive um boa ou uma péssima semana. Apenas estou com sono e um pouco cansado.

Uma Tarde de Tédio Antes do Fim das Férias

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Verão, tarde quente e abafada. Estou só em casa, esparramado no sofá da sala vendo o tempo passar lentamente enquanto a luz do Sol entra pelas janelas e é refletida nos vidros do ambiente, criando sombras e luzes.
Não há nada para se fazer. A programação da Tv não me atrai, estou sem vontade de ler livros ou revistas e as músicas do meu mp3 não parecem tão boas como sempre foram.
Me lavanto do sofá e caminho sem pressa até a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa de água, despejo o conteúdo dela em um copo cheio de gelo e retorno à sala, paro por alguns minutos em frente a televisão e encaro o meu reflexo no monitor desligado como um ato desesperado de quem não tem o que fazer.
Estou de volta ao sofá, olho a hora no celular. Me levanto e vejo a paisagem lá fora pela janela, o céu está alaranjado. O fim da tarde se aproxima.
Vou ao banheiro e tomo um refrescante banho, me visto e vou ao jardim para ver o Sol se pondo no horizonte.
Finda-se assim mais um tarde tediosa, uma das últimas antes das férias acabarem e do novo ano letivo começar na próxima segunda dia 28 de Janeiro.

Lego e o Determinismo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008


Dizem que o homem é produto do meio, segundo a linha de pensamento determinista. Com base neste enunciado começo a pensar que isto tem um certo fundo de verdade.
Vejamos um exemplo, uma pessoa que nasce na favela em meio ao tráfico de drogas e da criminalidade. Esta pessoa tem uma certa predisposição a seguir o caminho da marginalidade, mas em vez disso ela segue o caminho dos estudos e consegue fazer fama e dinheiro de forma lícita. Muitos poderiam afirmar que este caso fugiria à regra do determinismo, mas não. Esta pessoa foi produto do meio que existiu, pois vendo o caos e a desordem causada pelo tráfico de drogas em sua comunidade, a fez pensar em seguir por outro caminho e a deu forças para que isto acontecesse, não fugindo assim da tese determinista.
Pretendo prestar vestibular para arquitetura e também para design, acho que o que me colocou no caminho desta escolha foi o fato de que o Lego era um dos meus brinquedos favoritos quando eu era criança.
Enfim, brincar de lego na infância pode te transformar em um arquiteto em potencial, ou não.

Briga de Criança

sábado, 5 de janeiro de 2008


Início de noite. 6 amigos conversam na esquina, o mais velho tem 21 e os demais não passam dos 16. Conversa calma e cheia de risos, comentando o cotidiano semanal de cada um. Um vento frio passa vagarosamente por todos enquanto os assuntos mais dos variados se desenrolam.
Os dois mais novos de 12 e 14 anos mantinham uma conversa paralela enquanto rolavam no chão uma bola. Por motivos quase sem importância os dois se desentendem e começam com um festival de socos e pontapés regados com demasiados palavrões. Eles se estapeiam pela rua enquanto outros três que estavam conversando partem para separar a briga. O segundo mais velho, o de 16, fala como se fosse o general em comando em uma guerra e diz para eles não pararem a briga. Os pacificadores questionam o pedido. Falam que deixar eles se agredindo não é a coisa certa a se fazer. O de 16 anos responde calmamente, que a briga que está acontecendo é benéfica para ambos os lutadores mirins, que não é apenas uma luta física e sim mental. Afirma veementemente que todos aqueles golpes trocados moldarão os seus espíritos e os formarão para o futuro, e terão algum episódio para lembrar.
Os quatro se sentam de novo na calçada e assistem o fim da briga, que logo acaba. No fim da noite os jovens esquentadinhos já haviam feito as pazes e tudo voltara ao normal.