Fim de um dia nublado, o asfalto molhado, a vida parece passar mais lentamente naquela parte da cidade, sexto andar de um prédio residencial. Garota branca de corpo esguio parada de pé na varanda, seios nus, chorte curto, olhos inchados da tarde que passara trancada em seu quarto chorando, reação do fim do namoro. Seus pais não estão em casa, vão passar o fim de semana fora. Cigarro queima pela metade, ela esquecera de como era o gosto, havia parado pois o namorado odiava o gosto de nicotina nos beijos e o cheiro de fumaça nos cabelos. O uísque quente desce rasgando pela garganta da menina.
Os pedreiros na obra em frente filmam e fotografam a menina com as câmeras megapixel de seus celulares modernos comprados de fornecedores de honestidade duvidosa por um preço tanto quanto acessível, eles não sabem usar nem metade dos recursos. Ela trata os fotógrafos inconvenientes com a mesma indiferença que as cinzas do seu cigarro despejadas prédio a baixo.
Brilho no olhar, as suas lágrimas quentes descem pelo rosto frio refletindo as luzes dos postes que começam a se acender clareando a avenida, onde os carros passam devagar, do seu bairro classe média-alta.
Um blues ou talvez um jazz seria a trilha sonora perfeita para aquele momento tão cinza na vida da jovem que se sente tão incompleta como um espetáculo de teatro sem os seus artistas. A morte havia levado o seu amado.
Dor
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
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O Preço
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Garoto sai da frente do computador, lembra-se que tem de ir comprar pão. Levanta, pega o dinheiro. Abre o portão, coloca a cabeça para fora devagar, como um gênio com preguiça de sair da lâmpada, olha para os lados, balança as moedas no bolso, coloca o pé direito para fora.
- Me traga um maço de cigarros. - pede a voz do tio.
- Que marca eu trago? - pergunta o sobrinho, recuando o pé direito.
- Qualquer uma que tiver lá. - responde o tio, deseperado para dar umas baforadas.
- Está bem, eu tinha esquecido que é tudo a mesma porcaria. Todos deixam aquela nuvem de fumaça fedorenta no ar e vão acabar acabar te matando de câncer mais cedo ou mais tarde mesmo. - retrucou o moleque. - Ainda custa o mesmo preço?
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