O gosto amargo do café na boca, ao lado de coloridas lapiseiras de diferentes espessuras, materiais caros, debruçado sobre a prancheta A3, aquela que assim que eu desço do ônibus sob olhares confusos sobre o que levo naquela maleta branca e desajeitada, e a dúvida não fica apenas nos olhares, pois sempre vem alguém e me pergunta se eu curso desenho e eu prontamente respondo: "não, eu curso arquitetura", leve ou pesada dependendo da quantidade de livros empoeirados e de linguagem atrasada que se pode carregar dentro, aproveitando o espaço interno. As lições de arquitetura já começam por aí, funcionalidade.
Voltando ao gosto amargo do café que dá vontade de tomar mais para me manter acordado até tarde já que amanhã posso me dar ao luxo de dormir uma ou duas horas a mais, cada minuto de sono se torna precioso assim como cada moeda de dez centavos que te faz lembrar do preço das xerox que te mostram que o Niemeyer não é tão bom arquiteto quanto todo mundo pensa.
Mas o gosto amargo do café não é melhor do que a farinha de trigo no cabelo e tinta guache já seca pelo corpo e rosto embaixo de um sol escaldante de cidade litorânea fazendo pedágio em frente ao campus para a festa dos calouros e veteranos do dia do trote e no fim das contas ver que uma reunião de moedas e notas de valores diversos, dois biscoitos e um ticket de estacionamento valem juntos R$235,00; do que o miojo com creme de leite e queijo ralado com uma boa e velha Coca gelada ou uma lasanha com molho mágico junto com a turma falando o que pensa e tentando tocar violão - sagrado almoço, de talheres emprestados pelo vizinho, que precede as tão temidas aulas de geometria descritiva - ; do que dormir na aula de noções de arquitetura e urbanismo por duas vezes deixando o professor pê da vida; do que repetir de forma pomposa, digna de um CDF de ensino médio, uma citação de Goethe que o professor acabou de dizer porque há dezessete segundos atrás perdia a atenção dizendo onde seria uma palestra sobe CAD criativo; do que estar enrolando para fazer o trabalho de introdução ao desenho enquanto escrevo este simplório texto que quase ninguém irá ler e que retrata como é bom (e difícil) ser um estudante de arquitetura.
Ah, vida dura...
Vida dura, vida dura... de estudar arquitetura
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Postado por Adalberto Duarte às 23:04
Tags: Crônicas e Contos
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2 comentários:
Ual! Adorei sua descrição sobre arquitetura. Estou no último período e sei exatamente o que você descreve... Quanto desespero e quantas noites em claro! Mas vale a pena quando alguém reconhece o valor do seu projeto e enxerga a sua dedicação implícita nele... De qualquer forma, a gente reza pra acabar, mas quando está no final, nos tornamos nostálgicos e começamos a sentir saudade. Afinal, são momentos que vão marcar pra sempre as nossas vidas...
Isso me dá medo e vontade ao mesmo tempo de cursar Arquitetura. Adorei o texto ;D
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