Os dias de liberdade parecem estar contados, algo o chama de volta à prisão, àquela mesma cela que o tanto prendia e sufocava e que ele fez tanta questão de mostrar a todos que havia feito a sua fuga perfeita. A prisão que na noite passada sem motivo algum estava do outro lado conversando ao telefone, ligação que ele mesmo havia feito e as lágrimas tímidas escorreram rosto e corpo abaixo ao se despedir e a voz tremeu e a ligação caiu. As lágrimas se misturaram imediatamente a um banho frio e desceram pelo ralo, ficaram as dúvidas. A noite de festa de carnaval afasta mas não acaba com o "por que" que tanto ressona dentro da sua cabeça. E o fato de não haver mais uma cela para sua reclusão o faz ficar entediado, e a falta do que fazer que o move a lavar a roupa suja, incluindo uma camisa que ele havia ganho da prisão, a sujeira desce e ficar armazenada em algum compartimento da máquina de lavar mas as lembranças ficam.
Reincidente
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Postado por Adalberto Duarte às 19:13 2 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Vida dura, vida dura... de estudar arquitetura
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O gosto amargo do café na boca, ao lado de coloridas lapiseiras de diferentes espessuras, materiais caros, debruçado sobre a prancheta A3, aquela que assim que eu desço do ônibus sob olhares confusos sobre o que levo naquela maleta branca e desajeitada, e a dúvida não fica apenas nos olhares, pois sempre vem alguém e me pergunta se eu curso desenho e eu prontamente respondo: "não, eu curso arquitetura", leve ou pesada dependendo da quantidade de livros empoeirados e de linguagem atrasada que se pode carregar dentro, aproveitando o espaço interno. As lições de arquitetura já começam por aí, funcionalidade.
Voltando ao gosto amargo do café que dá vontade de tomar mais para me manter acordado até tarde já que amanhã posso me dar ao luxo de dormir uma ou duas horas a mais, cada minuto de sono se torna precioso assim como cada moeda de dez centavos que te faz lembrar do preço das xerox que te mostram que o Niemeyer não é tão bom arquiteto quanto todo mundo pensa.
Mas o gosto amargo do café não é melhor do que a farinha de trigo no cabelo e tinta guache já seca pelo corpo e rosto embaixo de um sol escaldante de cidade litorânea fazendo pedágio em frente ao campus para a festa dos calouros e veteranos do dia do trote e no fim das contas ver que uma reunião de moedas e notas de valores diversos, dois biscoitos e um ticket de estacionamento valem juntos R$235,00; do que o miojo com creme de leite e queijo ralado com uma boa e velha Coca gelada ou uma lasanha com molho mágico junto com a turma falando o que pensa e tentando tocar violão - sagrado almoço, de talheres emprestados pelo vizinho, que precede as tão temidas aulas de geometria descritiva - ; do que dormir na aula de noções de arquitetura e urbanismo por duas vezes deixando o professor pê da vida; do que repetir de forma pomposa, digna de um CDF de ensino médio, uma citação de Goethe que o professor acabou de dizer porque há dezessete segundos atrás perdia a atenção dizendo onde seria uma palestra sobe CAD criativo; do que estar enrolando para fazer o trabalho de introdução ao desenho enquanto escrevo este simplório texto que quase ninguém irá ler e que retrata como é bom (e difícil) ser um estudante de arquitetura.
Ah, vida dura...
Postado por Adalberto Duarte às 23:04 2 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Dor
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Fim de um dia nublado, o asfalto molhado, a vida parece passar mais lentamente naquela parte da cidade, sexto andar de um prédio residencial. Garota branca de corpo esguio parada de pé na varanda, seios nus, chorte curto, olhos inchados da tarde que passara trancada em seu quarto chorando, reação do fim do namoro. Seus pais não estão em casa, vão passar o fim de semana fora. Cigarro queima pela metade, ela esquecera de como era o gosto, havia parado pois o namorado odiava o gosto de nicotina nos beijos e o cheiro de fumaça nos cabelos. O uísque quente desce rasgando pela garganta da menina.
Os pedreiros na obra em frente filmam e fotografam a menina com as câmeras megapixel de seus celulares modernos comprados de fornecedores de honestidade duvidosa por um preço tanto quanto acessível, eles não sabem usar nem metade dos recursos. Ela trata os fotógrafos inconvenientes com a mesma indiferença que as cinzas do seu cigarro despejadas prédio a baixo.
Brilho no olhar, as suas lágrimas quentes descem pelo rosto frio refletindo as luzes dos postes que começam a se acender clareando a avenida, onde os carros passam devagar, do seu bairro classe média-alta.
Um blues ou talvez um jazz seria a trilha sonora perfeita para aquele momento tão cinza na vida da jovem que se sente tão incompleta como um espetáculo de teatro sem os seus artistas. A morte havia levado o seu amado.
Postado por Adalberto Duarte às 19:45 18 comentários
Tags: Crônicas e Contos
O Preço
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Garoto sai da frente do computador, lembra-se que tem de ir comprar pão. Levanta, pega o dinheiro. Abre o portão, coloca a cabeça para fora devagar, como um gênio com preguiça de sair da lâmpada, olha para os lados, balança as moedas no bolso, coloca o pé direito para fora.
- Me traga um maço de cigarros. - pede a voz do tio.
- Que marca eu trago? - pergunta o sobrinho, recuando o pé direito.
- Qualquer uma que tiver lá. - responde o tio, deseperado para dar umas baforadas.
- Está bem, eu tinha esquecido que é tudo a mesma porcaria. Todos deixam aquela nuvem de fumaça fedorenta no ar e vão acabar acabar te matando de câncer mais cedo ou mais tarde mesmo. - retrucou o moleque. - Ainda custa o mesmo preço?
Postado por Adalberto Duarte às 19:46 16 comentários
Tags: Crônicas e Contos
A Capivarinha
domingo, 28 de setembro de 2008
Postado por Adalberto Duarte às 21:18 11 comentários
Tags: Rasguei o Verbo
Aquele que Observa
sábado, 13 de setembro de 2008
O meio de uma tarde quente de fim de inverno, o movimento no centro da cidade é intenso, o garoto corre para a estação de trem - é melhor se apressar, é melhor se apressar, logo o seu trem irá passar e seu programa favorito você perderá, apenas tome cuidado para não tropeçar.
Viciados em crack andam descalços pelas ruas, pisando no asfalto quente que produz miragens no horizonte cheio de prédios e automóveis, caminham em bando como animais desorientados, talvez procurando uma vítima para roubar ou apenas um lugar para estar.
"Acorde, levante e lute, a Babilônia vai cair!", esbraveja um mendigo sujo enquanto dança em círculos no meio de uma praça por onde as pessoas passam apressadas e nem sequer prestam atenção no seu singular momento de loucura.
É apenas mais uma tarde comum, ele apenas repara demais na coisas que vê pela janela do ônibus quase vazio onde está, e o vento vai batendo no seu rosto e assanhando seu cabelo. Ele queria estar na praia, porém está sentado na da janela do ônibus voltando para casa depois de uma tarde de compras.
Postado por Adalberto Duarte às 17:12 13 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Um Cigarro
sábado, 10 de maio de 2008
É uma sexta-feira, início da noite, o dia fora chuvoso, o tempo está frio, uma certa neblina toma conta da rua molhada, gotículas de água despencam dos fios dos postes, ele caminha de volta para casa, pega um cigarro dentro do seu bolso, saca um isqueiro e acende a sua droga lícita. Ele prometera a si parar com o vício antes que seus pais comecem a desconfiar, mas dessa vez ele se perdoa, o cigarro é por uma boa causa, ajuda a pensar melhor e a fugir de alguns demônios. Como uma tocha acesa entre os seus dedos que ilumina as sombras das ruas úmidas e escuras por onde passa bem como os seus pensamentos. A ponta flamejante do seu cigarro exala uma densa fumaça, tão densa quanto seus pequenos problemas. Ele olha para cima e dá uma baforada como um dragão chinês que ele quer tanto tatuar nas costas e dá uma gargalhada, por um minuto se sentiu livre. Ele retorna para si e lembra que não está fumando maconha, é apenas um cigarro com aroma de canela.
Já perto de casa ele joga o cigarro no chão e pisa em cima, não foi bem educado com o que lhe proporcionou alguns momentos de alívio, mas ele tem apenas 16 isso já aconteceu e ainda vai acontecer muito, com pessoas, o que é pior.
Postado por Adalberto Duarte às 14:53 14 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Na Praia
segunda-feira, 31 de março de 2008
Fim de tarde, momentos antes do pôr-do-sol, areia nos pés, as ondas calmas no imenso mar azul, amigos, Coca-Cola na lata, pessoas indo e vindo, turistas, calçadão, avenida, carros, movimento. O vento assanha os meus cabelos, risos, conversa fiada e sem preocupação, sensação de liberdade, bermuda, camiseta de cor clara, carrego os meus chinelos na mão. Câmeras digitais, fotos, celular tocando no bolso de trás, tapioca no restaurante e bons momentos que são eternos enquanto duram.
Postado por Adalberto Duarte às 18:53 10 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Manhã de Domingo
quinta-feira, 20 de março de 2008
Me levanto da cama
e piso no chão gelado
coço o saco.
Vou ao jardim
com cara de chapado e cabelo bagunçado.
Olho para o céu azul
e me pergunto se o amanhã será nublado
como o sábado já passado.
Mas é claro que eu não obtive resposta
pois só um drogado
espera respostas de um céu ensolarado.
Postado por Adalberto Duarte às 22:36 16 comentários
Tags: Tentativa de Poesia
Madrugadeando
domingo, 9 de março de 2008
E o fim de semana começa, são as primeiras horas de um sábado. O sono, a televisão ligada na sala e eu escutando blues com os fones no ouvido, os olhos estão pesados e uma garrafa de água gelada refresca a minha garganta. O grafite 0.5 mm faz companhia à minha mão direita que freneticamente rabisca palavras sem sentido em um papel amassado.
A minha cama, eu deitado, o teto acima de mim. Enrolo um chumaço do meu cabelo com a ponta dos dedos. A luz acesa parece iluminar o meu espírito. Busco na minha mente algumas lembranças da semana, vasculhando pensamento por pensamento, como um lobo faminto farejando à sua caça. Desisto da procura e chego a conclusão de que não sei se tive um boa ou uma péssima semana. Apenas estou com sono e um pouco cansado.
Postado por Adalberto Duarte às 10:42 13 comentários
Tags: Crônicas e Contos, Melhores Posts
Uma Tarde de Tédio Antes do Fim das Férias
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Verão, tarde quente e abafada. Estou só em casa, esparramado no sofá da sala vendo o tempo passar lentamente enquanto a luz do Sol entra pelas janelas e é refletida nos vidros do ambiente, criando sombras e luzes.
Não há nada para se fazer. A programação da Tv não me atrai, estou sem vontade de ler livros ou revistas e as músicas do meu mp3 não parecem tão boas como sempre foram.
Me lavanto do sofá e caminho sem pressa até a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa de água, despejo o conteúdo dela em um copo cheio de gelo e retorno à sala, paro por alguns minutos em frente a televisão e encaro o meu reflexo no monitor desligado como um ato desesperado de quem não tem o que fazer.
Estou de volta ao sofá, olho a hora no celular. Me levanto e vejo a paisagem lá fora pela janela, o céu está alaranjado. O fim da tarde se aproxima.
Vou ao banheiro e tomo um refrescante banho, me visto e vou ao jardim para ver o Sol se pondo no horizonte.
Finda-se assim mais um tarde tediosa, uma das últimas antes das férias acabarem e do novo ano letivo começar na próxima segunda dia 28 de Janeiro.
Postado por Adalberto Duarte às 15:13 13 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Lego e o Determinismo
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Vejamos um exemplo, uma pessoa que nasce na favela em meio ao tráfico de drogas e da criminalidade. Esta pessoa tem uma certa predisposição a seguir o caminho da marginalidade, mas em vez disso ela segue o caminho dos estudos e consegue fazer fama e dinheiro de forma lícita. Muitos poderiam afirmar que este caso fugiria à regra do determinismo, mas não. Esta pessoa foi produto do meio que existiu, pois vendo o caos e a desordem causada pelo tráfico de drogas em sua comunidade, a fez pensar em seguir por outro caminho e a deu forças para que isto acontecesse, não fugindo assim da tese determinista.
Pretendo prestar vestibular para arquitetura e também para design, acho que o que me colocou no caminho desta escolha foi o fato de que o Lego era um dos meus brinquedos favoritos quando eu era criança.
Enfim, brincar de lego na infância pode te transformar em um arquiteto em potencial, ou não.
Postado por Adalberto Duarte às 19:34 30 comentários
Tags: Rasguei o Verbo
Briga de Criança
sábado, 5 de janeiro de 2008
Postado por Adalberto Duarte às 23:36 37 comentários
Tags: Crônicas e Contos
Um Certo Suicídio
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Ele tinha uma vida estável e feliz, era um bom homem. Sua empresa de consultoria empresarial, construída com muito esforço junto com a sua esposa que conhecera na universidade, fazia sucesso no mercado. Sua linda filha estava no jardim de infância e encantava o casal, com as suas primeiras palavras escritas. Muito ligado com a sua mãe, que o havia apoiado muito alguns anos antes com a morte de seu pai, ela era uma espécie de porto seguro para ele. Estas três mulheres faziam da vida dele uma total maravilha, sempre o auxiliando e o completando.
Porém fatalidades tendem a acontecer, e de uma vez só o tripé feminino que o sustentava foi arrancado dele de uma forma brusca e violenta em um trágico acidente de carro, que fatalmente vitimou as três mulheres.
Desconsolado e sem ter em quem se apoiar, o triste homem entrou em uma profunda depressão. À cada dia que passava ele se afastava mais da sua empresa, para passar mais tempo trancado em seu apartamento que o lembrava dolorosamente da família que havia perdido. De forma desesperada, toma uma decisão importante, talvez a mais importante da sua vida. Resolve se matar para fugir dos problemas que tanto o atormentam. Primeiro, pensa em uma forma que seja rápida e indolor, e na sua cabeça vem a imagem de um revólver. Um tiro na cabeça, será a sua passagem para fora desse mar de dor e desespero.
Os preparativos para o seu final começam lentamente, como um ritual. O decidido e desesperado homem, toma um demorado banho, tal como se fosse a sua purificação. Sai do banheiro para o seu quarto, onde veste uma calça branca de algodão, e parte para a cozinha, onde bebe uma generosa dose de seu uísque mais caro, que guardava apenas para ocasiões especiais. Liga o seu sistema de som para escutar música, e põe para tocar um pouco de blues. Sentado no sofá da sala, acende um cigarro e espera a hora certa para o fim. Retorna ao seu quarto, beija uma foto em que estavam ele e as suas amadas. Abre a última gaveta, e pega uma caixa preta forrada de veludo, abre o recipiente e pega o seu conteúdo, é uma arma. Retorna à sua sala-de-estar, e se ajoelha no centro dela, ergue o revólver e o aponta para a cabeça. Tremendo, ele põe o dedo no gatilho e sem pensar duas vezes o puxa, o barulho estridente do tiro leva embora a sua vida e também as suas mágoas e tristezas, como um poderoso remédio de efeito colateral fatal.
Postado por Adalberto Duarte às 12:58 13 comentários
Tags: Crônicas e Contos, Melhores Posts
23:59
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
O dia sóbrio está prestes a acabar, as nuvens encobrem as estrelas, a Lua que timidamente ilumina o céu escuro. A luz do meu quarto está acesa, a televisão está ligada e o sentimento de solidão me faz companhia. O café que eu tomara há algumas horas repreende o meu sono e me faz pensar em muitas coisas frustrantes e sem graça que eu já deveria ter esquecido.
Um triste jazz ecoa pela minha cabeça, intensificando o sentimento de solidão. O tic-tac do meu relógio de pulso debruçado sobre a mesa do computador quebra o silêncio noturno juntamente com os latidos dos cães domésticos espalhados pelos quarteirões.
A noite está quente, o vento não sopra. O rosto sempre sorridente dela povoa os meus pensamentos enquanto uma suave brisa adentra o meu quarto pela janela aberta. Troco repetidas vezes de canal, mas a programação não me cativa.
O sono não vem, o que vem no seu lugar é uma rajada de pensamentos sobre como gastar o tempo ocioso das férias e sobre como aproveitar uma nova oportunidade que se abriu para mim.
Agora já passa da meia noite, e eu estou aqui perdido no meu próprio quarto, afogado nos meus pensamentos e dilemas, enquanto outras pessoas dormem tranqüilamente.
Postado por Adalberto Duarte às 15:42 16 comentários
Tags: Crônicas e Contos, Melhores Posts